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Germanos (100-563)

    Os mapas mais antigos da região da Alemanha que temos no site encontram-se nesta postagem. São dois mapas, um para o ano 100 e outro para o ano 450.

    Naquela época, mais de 1500 anos atrás, a região tinha muito pouco a ver com a Alemanha atual, exceto o fato de que lá viviam povos indo-germânicos. Mesmo assim, optei por incluir os mapas, pois eles ajudam a compreender o desenvolvimento posterior da região.

    Sumário

    Celtas e Germanos

    Bem antes de a Alemanha existir como nação, na região por ela hoje ocupada, viviam vários povos indo-germânicos ou indo-europeus. Através de textos deixados pelos Gregos e pelo Romanos e também através de escavações arqueológicas, sabe-se que, ao longo do primeiro milênio antes de Cristo, na Europa Central, viviam pelo menos dois grandes grupos de povos, os Celtas e os Germanos.

    De forma geral, estes povos tinham uma cultura mais atrasada do que a da Roma Antiga. Por essa razão, eles eram classificados pelos Romanos e pelos Gregos como Bárbaros.

    A designação de Celtas, servia para um conjunto de povos, que, a partir de uma região ao Norte dos Alpes, foi se espalhando em uma grande área da Europa Central, avançando para Oeste, em direção à França atual, e para Leste, em direção à Áustria atual.

    Mais ao Norte dos Celtas, no Nordeste da Europa Central (Norte e Centro da Alemanha e da Polônia atual, região do Báltico) e também no Sul da Escandinávia, estabeleceu-se um outro grupo de povos. Este grupo era chamado de Germanos pelos Romanos.

    Os historiadores falam de povos diferentes, pois eles tinham línguas e culturas diferentes. De forma geral, os Celtas formavam uma cultura mais adiantada que a dos Germanos.

    Enquanto que os Germanos viviam em uma economia de subsistência, produzindo apenas o necessário para viver, os Celtas tinham uma economia mais sofisticada, com uso de moedas, especialização de produção e exportação de bens para regiões vizinhas.

    Também o sistema político dos Germanos eram mais simples, baseado em clãs familiares, enquanto que os Celtas conseguiam se organizar em grupos maiores.

    A fronteira entre os Celtas e o Germanos era uma zona de contato entre os povos e possivelmente havia migração entre os vizinhos.

    Províncias Romanas

    Lá por 50 AC, os Romanos, comandados por Júlio César, haviam conquistado grandes regiões da Europa Central, a Oeste do Rio Reno e ao Sul do Rio Danúbio, lá estabelecendo províncias romanas. Os Romanos chamavam esta região de Gália e seus moradores de Gauleses. Na sua maioria, os povos que ali viviam eram Celtas, mas, mais perto do Reno, também havia tribos germânicas.

    O mapa abaixo mostra as províncias romanas que havia na Europa Central ao redor de 100, quando o Império Romano havia atingido sua expansão máxima.

    A grande área chamada de Germânia Magna não era propriamente parte do Império Romano. Esta área aparece na cor bege no mapa. Ali vivia um grande número de tribos de Germanos. Estas tribos nunca foram efetivamente dominadas pelos romanos, apesar de eles lá terem feito várias incursões e mantido acampamentos temporários.

    A fronteira do Império Romano com a Germânia Magna era formada em grande parte pelos rios Reno e Danúbio. Na margem esquerda do Reno, ficavam as províncias Germânia Inferior e Germânia Superior. Mais para Oeste, situavam-se as províncias Bélgica e Gália Lugundensis. Já ao Sul do Danúbio, ficavam as províncias RaetiaNoricum e Panônia.

    A população destas províncias era constituída por um misto de Celtas e Germanos, estes vivendo na região próxima da margem esquerda do Rio Reno.

    Os romanos foram construindo cidades em suas províncias, sendo muitas delas o embrião de cidades hoje existentes. As capitais de algumas províncias aparecem no mapa. A capital da Germânia Inferior era “Colonia Agripina“, que hoje é a cidade de Colônia (Köln). A Germânia Superior tinha como capital “Mogontiacum” (hoje Mainz). Já a capital da Bélgica era “Augusta Treverorum“, hoje a cidade de Trier.

    Os Germanos da época dos Romanos

    Algumas tribos germânicas, em certas épocas, quando lhes convinha, eram aliadas dos Romanos ou com eles mantinham relações de troca. Em outras oportunidades, várias tribos germânicas se associavam para invadir áreas dominadas pelos Romanos.

    Para defender suas províncias de invasões de povos germânicos, além de usar a fronteira natural oferecida pelos rios, os romanos construíam grandes sistemas de fortificações, que chamavam de limes (limites). No mapa, a região de fortificações que havia no Sudoeste da Alemanha de hoje está marcada em azul claro.

    Os povos germânicos daquela época eram iliteratos. Assim, não deixaram registros escritos. Tudo que sobre eles se sabe vêm da arqueologia e de autores romanos.

    Um relato interessante é o texto intitulado “Germania“, de autoria de Tácito, um político e escritor romano. O livro foi escrito ao redor do ano 100 e descreve os vários povos que viviam na Germânia Magna, começando pelos que viviam mais perto dos romanos até aqueles que viviam na região Nordeste, junto ao rio Vistula (Weichsel). 

    Tácito descreve as características físicas dos Germanos (olhos azuis, ruivos), a organização das tribos, baseada em conselhos populares, o papel das mulheres na sociedade, os cultos e muitas outras características dos vários povos.

    Os Germanos viviam em pequenas vilas e tinham uma organização política muito simples, baseada em famílias ou clãs. O conceito de um povo abrangendo várias vilas parece mais um conceito criado pelos romanos para classificar os Germanos, do que uma ideia deles próprios. Estes se sentiam ligados ao seu clã e, de acordo com a conveniência, guerreavam outros clãs ou a eles se associavam.

    Dos povos mencionados por Tácito, muitos desaparecem posteriormente da História. No mapa, alguns povos mais importantes estão marcados. Os nomes estão em Latim. Abaixo comento alguns deles:

    Cherusci (CheruskerQueruscos)

    Este povo manteve contato com os romanos e em algumas vezes com eles esteve aliado, o que não era incomum na relação entre Romanos e Germanos. Entretanto, no ano 9 depois de Cristo, um exército formado por uma aliança de queruscos com vários outras tribos, derrotou os romanos na chamada Batalha da Floresta de Teotoburgo (Teotoburger Wald). Esta batalha resultou na perda de três legiões romanas (algo como 15.000 a 20.000 homens). O lado germânico foi comandado por Arminius, um príncipe Querusco que havia servido no Exército Romano e que se revoltou contra medidas tomadas pelos invasores romanos.


    Suebi (SuebenSuávios)

    Este termo designava um coletivo de vários povos que vivia entre os rios Elba e Oder e que aparece em várias fontes além do livro de Tácito. Entre outros, os Suávios incluíam ou eram associados aos Hermanduri, um povo que convivia pacificamente com os romanos, os Marcomanni, uma confederação de povos estabelecidos na região da Boêmia, e os Langobardi (Lombardos), que bem mais tarde migraram para Norte da Itália.
    Dependendo da época, os Suávios também são chamados de Alamanos (Alamannen).


    Burgundiones (BurgundenBurgúndios)

    Este povo mais tarde migrou para a região Sudeste da França, dando nome à região de Borgonha.

    Saxones (SachsenSaxões)

    Estes povos viviam no Norte da Alemanha na região do Rio Elba e deram origem aos Saxões que viviam na Grã-Bretanha, bem como ao Ducado da Saxônia (Stammesherzogtum Sachsen) que aparece mais tarde na história da Alemanha. O atual estado da Saxônia fica em uma região diferente, mais ao sul da Alemanha.


    Gutones (GotenGodos)

    Povo que vivia no Norte da Polônia atual e supostamente deu origem aos Godos (VisigodosOstrogodos) que mais tarde invadiram o Império Romano e lá estabeleceram reinados.


    Frisii (FriesenFrísios)

    Povo que vivia na região costeira do Norte da Holanda atual e do Noroeste da Alemanha atual e deu origem aos Frísios que até hoje habitam a região.


    Rugii (RugierRúgios)

    Este povo é mencionado como vivendo na costa do Mar Báltico, entre os rios Vístula e Oder. Na época das migrações dos povos (ver postagem), teria se associado aos Hunos, e, mais tarde, migrado gradativamente para o Sul até o Norte da Itália.

    Povos em Migração

    Entre os anos de 375 e 568 aproximadamente, ocorreram extensas migrações de povos em toda Europa. Neste período, alguns povos germânicos abandonaram suas regiões originais e migraram por grandes distâncias, tendo algumas tribos chegado até a região do Mediterrâneo, inclusive na costa da África.

    Em Português, este período é conhecido por “Migrações dos Povos Bárbaros” (Völkerwanderung, em Alemão).

    Os historiadores não são unânimes em identificar uma causa principal para esta migração. Parece que vários motivos se combinaram. O que é certo é que o Império Romano Ocidental havia começado a entrar em declínio.

    Por um lado, este declínio provinha de vários fatores internos, como disputas de poder, guerras civis, conflitos religiosos, problemas climáticos e epidemias, entre outros.

    Por outro lado, havia um importante fator externo, que eram os vizinhos Germanos. Depois de séculos de intercâmbio com a cultura mais avançada dos Romanos, os Germanos desejavam tomar parte da riqueza e do desenvolvimento de seus vizinhos. Eles passaram a invadir, cada vez com maior sucesso, áreas sob domínio romano.

    Somado a isso, no ano 375, iniciou a invasão dos Hunos, uma federação de povos asiáticos nômades, excelentes cavaleiros e aguerridos combatentes. Estes povos foram varrendo a Europa do Oriente para o Ocidente, tendo, no ano 450, comandados por Átila, chegado até o Rio Reno, que cruzaram perto da cidade de Mainz. Esta invasão igualmente fez com que os povos germânicos fossem empurrados para Oeste e para o Sul em direção às antigas províncias romanas.

    O mapa a seguir mostra a distribuição de povos pela Europa no ano 450.

    No mapa, o Império Romano já aparece dividido em uma parte Oriental (Oströmisches Reich) e uma parte Ocidental (Weströmisches Reich).

    Na parte Ocidental, em 450, restavam apenas a área correspondente à Itália de hoje e uma área na França atual, identificada no mapa como Gebiet des Syagrius (Reich des SyagriusReich von SoissonsDomínio de Siágrio). Siágrio era um chefe militar que havia se tornado o duque daquela região. Mesmo estas áreas ficaram por pouco tempo em mãos romanas, tendo sido invadidas nos anos seguintes por tribos bárbaras, acabando definitivamente com o Império Romano Ocidental.

    Fora destas duas áreas, a Europa aparece dominada por vários povos, a maioria deles de origem germânica.

    Povos na Germânia dos Romanos

    Nas regiões de origem dos povos germânicos (províncias romanas de Germania Magna, Germania Inferior, Germania Superior – vide mapa do ano 100), formaram-se vários reinados ou ducados:

    Saxões (Sachsen), Anglos (Angeln), Jutos (Jüten)

    Este conjunto de povos já aparece no mapa do Ano 100 e continua a aparecer nos mapas de períodos seguintes. Ao Norte da área dos Saxões, mais ou menos na Dinamarca atual, viviam os Anglos (Angeln) e os Jutos (Jüten). Coletivamente estes povos eram conhecidos como Anglo-Saxões. Com a decadência do poder dos Romanos nas Ilhas Britânicas, estes povos para lá migraram e acabaram dominando a parte Sudoeste das ilhas.

    Francos (Franken), Francos Sálios (salische Franken)

    Os Francos, povo federado dos Romanos, viviam na região Norte do Rio Reno, que é onde aparecem neste mapa. Mais tarde, eles estabeleceram um grande reinado que cobria grande parte da Europa Central. Os Francos são discutidos em profundidade em postagem separada

    Os Francos Sálios (salische Franken, Salfranken) são um subgrupo dos Francos e não devem ser confundidos com os membros da Dinastia Saliana (Salier) que forneceu imperadores romano-germânicos entre os anos 1027 e 1125 (vide postagem).

    Turíngios (Thüringer)

    Em relação a este povo, há várias teorias de como ele teria se formado a partir de outros povos germânicos. Sabe-se que na região havia um Reinado da Túringia (Reich der Thüringer), que a partir do ano 531, foi ocupado pelos Francos e pelos Saxões.

    Alamanos (Alamannen)

    Do nome deste povo deriva-se o nome Alemanha, que usamos em Português (vide postagem sobre os vários nomes estrangeiros para Alemão/Alemanha). O nome também continua existindo para designar um dialeto de Alemão, o Alemânico (Alemannisch), falado na região onde viviam originalmente os Alamanos.

    Segundo algumas fontes, os Alamanos faziam parte dos Suevos (em Latim, Suevi, em Alemão, Sueben), federação de tribos que anteriormente vivia na região do Rio Oder (ver mapa do ano 100), ou com eles se miscigenaram. 

    Nos mapas referentes a épocas posteriores (ver, por exemplo, o mapa do Reino dos Francos), os Alamanos passaram a ser referenciado pelo nome de Suevos.

    Frísios (Friesen)

    Este povo que vivia na região costeira do Mar do Norte, hoje Holanda e Norte da Alemanha, já aparecia no mapa referente ao ano 100. Até hoje, na Alemanha e Holanda, identifica-se uma minoria com este nome, vivendo na mesma região.

    Lombardos (Langobarden)

    No mapa referente ao ano 100, os Lombardos ainda apareciam no Norte da Germania Magna, próximo ao Rio Elba. Ao redor dos anos 250–260 eles haviam migrado mais para o Sul, na parte austríaca do Rio Danúbio. É nesta região que eles aparecem no mapa do ano 450. Mais tarde, a partir do ano 567, eles invadiram e ocuparam a metade Norte da Itália e lá estabeleceram um reinado (ver mapa do Reino dos Francos). O nome da província italiana de hoje, Lombardia, provém do nome deste povo.

    Rúgios (Rugier)

    No mapa referente ao ano 100, os Rúgios, lá identificados pelo nome em Latin, Rugii, aparecem junto ao Mar Báltico, na nascente do Rio Oder. Já no mapa de 450, eles aparecem bem mais ao Sul, próximo da fronteira atual entre República Tcheca e Áustria. Assim, como vários outros povos, por algum tempo eles estiveram associados aos Hunos. Mais tarde, associados aos Ostrgodos (vide abaixo), migraram para a Itália.

    Povos no restante do antigo Império Romano

    Além de sua região de origem, povos germânicos migraram por grandes distâncias, espalhando-se pela Europa e chegando até o Norte da África.

    Burgúndios (Burgunden)

    Este povo emigrou de sua área de origem entre os rios Oder e Vístula (vide mapa do ano 100) e no ano 450 estava estabelecido na região da França hoje chamada de Borgonha, em referência a eles. Nesta região, conforme mostrado nos mapas de épocas posteriores, estabeleceram um reinado.

    Visigodos (Westgoten), Ostrogodos (Ostgoten)

    Os Visigodos (Westgoten) e os Ostrogodos (Ostgoten) resultaram de uma divisão do povo dos Godos (Goten), um povo germânico originário da região do Vístula, talvez vizinhos dos Burgúndios. Talvez sejam descendentes dos Gutones que aparecem no mapa do ano 100.

    No período da migração dos povos germânicos, os Visigodos e os Ostrogodos ocuparam grandes áreas que pertenciam originalmente ao Império Romano. 

    Os Visigodos mantiveram um reinado entre os anos 418 e 711 na região da Espanha. 

    Já os Ostrogodos, que no mapa ainda aparecem em uma região a Leste dos Alpes, ocuparam toda região da península da Itália e lá estabeleceram um reinado que perdurou até ao redor do ano de 550.

    Gépidos (Gepiden)

    Este povo, talvez aparentado dos Ostrogodos, estabeleceu um importante reinado na região da Romênia e Hungria de hoje. Sabe-se que inicialmente eles lutaram ao lado dos Hunos. Entretanto, ao redor do ano 450, os Gépidos lideraram um grupo de povos que derrotou definitivamente os Hunos e os expulsou da Europa. O reinado dos Gépidos se estendeu até ao redor de 560.

    Hunos (Hunische Völker)

    No mapa, está marcada a região que se supõe como ter sido a origem dos Hunos.

    Fontes

    Fontes gerais

    Veja a Bibliografia Geral.

    Fontes específicas desta postagem