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Francos (485-911)

    O mapa do ano 100 mostra como a região da Alemanha atual era habitada quando o Império Romano estava no seu apogeu. Mais tarde, ao redor do Século 3, como visto no mapa dos povos em migração, os povos germânicos, que até então estavam divididos em muitas tribos, frequentemente lutando umas contra as outras, começaram a se associar em grupos maiores e a invadir áreas do Império Romano. Por esta razão, mas também por problemas internos, o Império Romano, ao menos na sua parte Ocidental, acabou por se desfazer. As regiões por ele dominadas na Europa Central foram tomadas por outros povos, principalmente Germânicos.

    Um grupo de povos germânicos, os Francos, é particularmente importante para a História da Alemanha. Este grupo formou-se ao redor do Século 3, na margem direita do Rio Reno, no lado oposto à província romana Germania Inferior (vide região original dos Francos no mapa dos povos em migração). 

    Com o declínio do Império Romano, os Francos foram gradativamente invadindo regiões ocupadas pelos Romanos. Neste processo, foram assimilando a cultura dos Romanos, passando a adaptar em parte suas formas de se organização política e social. Com o tempo, os Francos foram abandonando seus deuses tribais e assumindo o Cristianismo.

    Sumário

    O Reino dos Francos

    A partir do ano 485, os Francos estabeleceram um reino que foi sendo gradativamente expandido através da apropriação área vizinhas.

    Inicialmente, os reis dos Francos vieram da dinastia dos Merovíngios (Merowinger), que ficou no poder até 751, quando foram derrubados por uma outra dinastia, a dos Carolíngios (Karolinger).

    O nome desta dinastia faz referência ao seu membro mais conhecido, Carlos Magno (Karl de Große), que esteve no poder de 768 até 814.

    No ano 800, Carlos Magno logrou ser coroado “Imperador dos Romanos” (Imperator Romanurum) pelo Papa. A partir daí, até 1806, de forma não contínua, vários monarcas alemães procuraram mostrar que seu império descendia do antigo Império Romano Ocidental, através da palavra “Romano”, mesmo estando o centro de seu poder nas regiões ao Norte dos Alpes, em capitais como Aachen e Viena. Adicionalmente, procuravam a legitimação através da coroação pelo Papa, que lhes dava o título de “Sacro” Imperador.

    Daí surgiram várias designações, como Sacro Império Romano (Heiliges Römisches Reich) e Sacro Império Romano Germânico (Heiliges Römisches Reich Deutscher Nation).

    O mapa a seguir mostra a expansão do Reino dos Francos até 814. Neste ano, sob Carlos Magno, o reino atingiu sua expansão máxima.

    No mapa, as áreas ocupadas pelos Francos estão representadas com bordas verdes, sendo as mais antigas representadas por tons mais escuros. O ano no qual a área passou ao domínio dos Francos é indicado entre parênteses.

    O embrião do Império dos Francos são as áreas chamadas de Austrasien (Austrásia) e Neustrien (Nêustria). A Austrásia compreendia o território original dos Francos na região Norte do Rio Reno. Já a Nêustria ficava mais para o Oeste. O termo Austrien ou Austrasien, significando algo como Land im Osten (Terra no Leste), era usado em oposição a Neustrien, a Terra do Oeste.

    Dali os Francos iniciaram sua expansão. Em 502, tomaram a região identificada no mapa por Schwaben (Suábia). Esta região aparece em algumas fontes como Alamannien (Alamânia). Logo após, em 507, os francos tomaram Aquitanien (Aquitânia).

    Nos quase trezentos anos que seguiram, os domínios dos Francos foram se estendendo para Sul e para Leste.

    No Sul, o Reino estendia-se até a região dos Montes Pirineus, onde hoje fica a fronteira entre a França e a Espanha, e cobria toda a metade Norte da Itália atual.

    Vários nomes das regiões que compunham o Império de Carlos Magno, como, por exemplo, Bayern (Baviera), Kärnten (Caríntia) ou Provence (Provença),  se mantiveram para designar as regiões em questão até hoje.

    Comparando o mapa acima com o mapa do ano 100, pode-se observar alguns povos que migraram da Germania Magna para o Sul. Os Lombardos (Langobardi) ocuparam todo Norte da Itália lá criando um reino. Já os Burgúndios (Burgundiones) da Germania Magna aparecem na área designada por Burgund (Borgonha) no Império de Carlos Magno.

    Organização do Reino

    Os reis da época eram viajantes. Juntamente com a corte mudavam de uma palácio real (KönigspfalzKaiserpfalz) para outro. Aparentemente, um dos palácios prediletos de Carlos Magno foi o de Aachen (Aix-la-Chapelle, em Francês), onde mais tarde foram coroados outros imperadores.

    A forma de administrar o Reino variou ao longo do tempo, mas, em linhas gerais, ficava em grande parte na mão de Condes (Grafen), que eram tanto chefes militares quanto administradores de confiança do Imperador. Dependendo do local de atuação, falava-se de:

    Povos nas fronteiras

    Ao redor do Reino, viviam vários povos que aparecem mais tarde na História da Alemanha e, por esta razão são comentados a seguir.

    Povos na borda Oriental

    Para Leste, o Império entrava na Áustria atual, e no Nordeste era delimitado pelo Rio Elba.  Além da fronteira oriental, viviam vários povos eslavos, que pagavam tributos ao Império dos Francos. Do Norte para o Sul, aparecem no mapa os seguintes povos:

    Abodriten (Obotritas)

    Entre os Séculos 8 e 12, os Obotritas ocuparam a região onde atualmente ficam Mecklenburg e a parte Oriental de Holstein, tendo participado em algumas guerras ao lado dos Francos de Carlos Magno.

    Wilzen (Veletos)

    Deste grupo de tribos sabe-se pouco. Eles são mencionados em 789 em um registro dos Francos e desaparecem a partir da metade do Século 10, provavelmente fusionando com outros grupos de povos.

    Sorben (Sorábios)

    Este povo emigrou no período das Migrações, na primeira metade do Século 6, de sua região original no Norte dos Cárpatos para uma região ao Norte da Boêmia, próximo ao Rio Neiße. Seus descendentes continuam habitando esta mesma região até hoje. Estima-se que existam ao redor de 20.000 pessoas que ainda falam uma das duas línguas sorábias remanescentes.

    Böhmen (Boêmios, Tchecos)

    Os Tchecos, até o início do Século 20 também chamados de Boêmios com base no antigo nome de seu país, são outro povo eslavo que se estabeleceu na região onde hoje fica a República Tcheca, depois que de lá emigraram os habitantes germanos (ver mapa dos Povos em Migração).

    Mährer (Morávios)

    Outra tribo eslava emigrada para região Oriental do Império dos Francos. Estabeleceram-se na parte Oreintal da República Tcheca atual, bem como na região da Eslováquia.

    Awaren (Ávaros)

    Ao contrário dos demais povos mencionados na borda oriental do Império dos Francos, os Ávaros eram nômades vindos da Eurásia, tendo sido subjugados pelos Francos em 788-790.

    Kroaten (Croatas) e Serben (Sérvios)

    Sérvios e Croatas são grupos étnicos de Eslavos Meridionais e formaram nações que existem até hoje.

    Borda Ocidental

    Na borda Ocidental do Império, viviam os Bretões (Bretonen), um povo Celta que migrou das Ilhas Brtitânicas para o Continente.

    O Reino dividido

    Enquanto muitas dinastias de nobreza da Europa seguiam o costume da primogenitura, na qual o primeiro filho herda o cargo e a riqueza, os Francos preferiam a herança partilhada, na qual a riqueza do reino é dividida em partes iguais entre os sucessores.

    Depois da morte de Carlos Magno em 814, o Reino dos Francos passou a ser disputado por vários de seus descendentes, até que em 843, três deles chegaram a um acordo de partilha que foi firmado no Tratado de Verdun (Vertrag von Verdun).

    Este ponto da História é importante, pois ali começou um demorado processo que, bem mais tarde, levou ao surgimento da França e da Alemanha como nações distintas.

    Tradução da legenda do mapa:

             – Reino dos Francos quando da morte de Carlos Magno em 814

    Partição entre os filhos de Luís I, o Piedoso, de acordo com o Tratado de Verdun:
             – Parte de Carlos, o Calvo
             – Parte de Lotário I
             – parte de Luís, o Germânico

    O mapa mostra como o Reino dos Francos foi dividido:

    População na Europa ao final do Reino

    Para finalizar esta postagem, o mapa abaixo mostra como a Europa estava dividida em etnias na época em que o Reino dos Francos findava.

    Tradução da legenda do mapa:

             – Germanos
             – Romanos (povos romanizados: Celtas, Italianos, Espanhóis, Romênios e Raeti)
             – Celtas
             – Eslavos, Letões
             – Búlgaros (eslavizados)
             – Magiares
             – Finlandeses (cor do sublinhado)

    – – – – Antiga estrada do comércio entre Constantinopla e a Suécia

    As localidades de fronteira destinadas ao comércio com os eslavos por Carlos Magno estão sublinhadas

    Em linhas gerais, os povos que aparecem neste mapa são os mesmos que aparecem nos dois outros mapas desta postagem e, por isso, não são explicados novamente aqui.

    Mesmo assim, este mapa mostra algumas informações adicionais:

    • Na região onde ficou a parte oriental do Reinos dos Francos (vide mapa da divisão do reino acima), ou seja, na região da França atual, vivam Germanos e Romanos. Já na parte ocidental do Reino, região da Alemanha atual, viviam predominante Germanos. Isto é mais um fator que explica a evolução dos dois lados em nações com línguas distintas (Francês e Alemão).
    • Na fronteira entre os Germanos e os Eslavos, ao longo dos rios Elba e Saale, havia várias cidades que haviam sido determinadas por Carlos Magno como pontos de comércio com os Eslavos e os Ávaros.
    • Apesar de Eslavos (Slawen) e Letões (Letten) serem povos diferentes, o autor do mapa os representa com a mesma cor.

    Fontes

    Fontes gerais

    Veja a Bibliografia Geral.

    Fontes específicas desta postagem