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A Reforma (Século 16)

    Esta postagem contém três mapas referentes ao Século 16.

    Como discutido na última sessão desta postagem, este século é particularmente importante para o pesquisador de história de família. Foi em 1517, que Martinho Lutero (Martin Luther) enviou suas 95 teses ao Arcebispo de Mainz, dando com isso início à Reforma Protestante (Reformation), que causou grandes mudanças, não só religiosas, mas também políticas, em toda Europa Central.

    Sumário

    A Alemanha em 1547

    O mapa abaixo mostra a divisão política da Europa em 1547, portanto depois do início da Reforma Protestante. As cores indicam as grandes casas feudais que dominavam os territórios.

    Tradução da legenda do mapa:

    Territórios da Casa de Habsburgo
             – Linha Espanhola
             – Linha Austríaca
    Territórios da Casa de Wettin
             – Linha Albertina
             – Linha Ernestina
    Territórios da Casa de Hohenzollern
            Linha de Brandemburgo
            Linha da Francônia
    Territórios da Casa de Wittelsbach
             – Linha da Baviera
             – Linha do Palatinado
    Territórios da Casa de Oldemburgo
             – Dinamarca (somente fronteira colorida) – Schleswig-Holstein (todo território colorido)
             – Oldemburgo

             – Área do clero
             – Cidades imperiais

    – – – – Fronteiras do Sacro Império Romano

    Abreviaturas (indicam que a qual outro estado pertence a área):
    BBamberg, BrBrixen, FrFreising, MMagdeburg, MsMeißen, SSalzburg, SiSickingen, TTrier

    O condado de Sponheim (Gft. Sponheim) era possuído conjuntamente por Baden e pelo Palatino desde 1437 e estava dividido em duas partes, a anterior (vordere Grafschaft Sponheim) até 1707 e a posterior (hintere Grafschaft Sponheim) até 1776.

    – – – – Fronteira da República Unida dos Países Baixos (Vereinigte Niederlande) criada em 1579 e 1609 pelo acordo conhecido por União de Utreque (Utrechter Union). A linha traço-ponto delimita outras áreas que, em 1609, estavam sob controle dos Países Baixos. Estas áreas eram conhecidas por Generalitätslande

    Os Habsburgo

    Em 1547, o Imperador do Sacro Império Romano era Carlos V (Karl V.) da Casa de Habsburgo, a família mais poderosa do Império, possuindo a maior área territorial. Os seus domínios incluíam não só o Arquiducado da Áustria (Erzherzogtum Österreich) e o Reino da Boêmia (Königreich Böhmen), marcados em cor de laranja no mapa), mas também os Países Baixos e o Franco-Condando de Borgonha (Freigrafschaft Burgund), marcados em amarelo no mapa.

    Além disso, fora do Sacro Império Romano, por herança, Carlos V era também Rei da Espanha, lá denominado Carlos I. Adicionalmente, ainda tinha alguns domínios no Sul da Itália.

    Tudo isso, fazia da Casa de Habsburgo a mais poderosa dinastia real da Europa Ocidental na época. Foi desta Casa que saíram os Imperadores do Sacro Império Romano até sua extinção em 1806.

    Os Hohenzollern – Embrião da Prússia

    Os domínios dos Hohenzollern dentro do Sacro Império Romano continuavam incluindo o Eleitorado de Brandemburgo (Fürstentum Brandenburg), que já apareceu nos mapas dos séculos precedentes.

    Entretanto, no Século 15, a Casa Hohenzollern havia começado a expandir seus domínios também para fora do Império.

    Desde 1511, Alberto, Duque da Prússia (Albrecht von Preußen), um nobre de uma das linhas da Casa de Hohenzollern, era o Grão-Mestre da Ordem Teutônica (Deutscher Orden) – vide postagem correspondente.

    Em 1525, Alberto converteu-se ao Luteranismo e transformou o Estado da Ordem Teutônica no Ducado da Prússia (Herzogtum Preußen), que passou a ser por ele governado. No primeiro século de sua existência, este ducado era um feudo do Reino da Polônia.

    Este foi o embrião da Prússia Oriental (Ostpreußen), tão importante na História da Alemanha.

    Confederação Helvética – Embrião da Suíça

    No mapa, encontra-se a Confederação Helvética identificada como “Lande der Eidgenossen“.

    A Confederação Helvética foi a federação de pequenos estados independentes que, mais tarde, deu origem à Suíça. Desde 1499, esta Confederação já era de fato independente do Sacro Império Romano, apesar de formalmente dele ainda fazer parte.

    Confissões religiosas em 1560

    Depois da conversão do Ducado da Prússia (Herzogtum Preußen) em 1525, o Luteranismo foi gradativamente sendo adotado por outros territórios alemães, aí incluídos o Condado de Hesse (Landgrafschaft Hessen), em 1525, o Eleitorado da Saxônia (Kursachsen), terra natal de Lutero, em 1527, o Eleitorado do Palatinado (Kurpfalz), na década de 1530, e o Ducado de Württemberg (Herzogtum Württemberg), em 1534. Não só no Sacro Império Romano, mas também nos demais estados da Europa, surgiram movimentos semelhantes.

    Em resposta ao Luteranismo, a Igreja Católica iniciou em 1545 a Contrarreforma, estabelecida durante o Concílio de Trento.

    Paz de Augsburgo

    No Sacro Império Romano, o Luteranismo levou a uma série continuada de conflitos entre os senhores feudais que haviam se convertido ao movimento e o Imperador Carlos V (Karl V.), que permanecia católico.

    Para aliviar a tensão, em 1555, foi firmado um tratado, a Paz de Augsburgo, entre os senhores feudais luteranos e o Imperador católico. O tratado estabelecia que os súditos de um território deviam seguir a religião de seu monarca (Cujus regio, eius religio). Foi dado um prazo para que os súditos se convertessem ou migrassem para outro território. Somente duas confissões eram admitidas, Catolicismo e Luteranismo, ficando de fora outros grupos protestantes importantes, como os calvinistas e os anabatistas, que, apesar da proibição, foram crescendo nos anos seguintes.

    O resultado foi uma divisão do Império, a qual, em grandes linhas, manteve-se até a metade do Século 20: as regiões mais ao Norte eram luteranas, e aquelas mais ao Sul e na Áustria permaneceram católicas. Esta divisão pode ser vista no mapa abaixo, que mostra a expansão das religiões em 1560.

    Tradução da legenda do mapa:

             – Luteranos
            Calvinistas e zwinglianos
            Valdenses e morávios
            Anabatistas, socianistas, antirinitarianos
             – Católicos romanos

    Confissões religiosas em 1618

    O mapa a seguir mostra a situação em 1618. A grande diferença em relação ao mapa precedente é que além dos luteranos, um outro grupo importante de protestantes havia se estabelecido no Sacro Império Romano, o dos calvinistas, assim chamados por seguirem as idéias de João Calvino, um reformador suíço.

    Os calvinistas estavam estabelecidos em vários territórios, entre eles os Países Baixos, o Palatinado e partes de Hessen. Com o tempo, os calvinistas se organizaram na Reformierte Kirche (Igreja Reformada). Entre os imigrantes para o Brasil houve também membros desta igreja, que aqui passaram a ser luteranos.

    Tradução da legenda do mapa:

    Protestantes
             – Luteranos
            Calvinistas
            Zwinglianos
            Hussitas

             – Católicos
             – Maioria católica
             – Tira horizontal desta cor sobre área de outra cor indica que a área voltou a ser católica (recatolizada)

    Áreas com várias religiões estão chanfradas (linhas em diagonal)

    Além de cristãos que aparecem nestes mapas, o Império Alemão, desde a Idade Média, teve uma pequena mas importante comunidade de judeus. Já no Século 11 havia sinagogas em Colônia, Worms e Trier. As comunidades judaicas viveram épocas de crescimento e tolerância, mas também épocas de perseguição e violência anti-semita, que culminaram no Holocausto no Século 20.

    Importância para a Genealogia

    Este Século é particularmente importante para o pesquisador de história de famílias alemãs.

    Registros Vitais

    Foi nesta época que as igrejas nas regiões alemãs iniciaram gradativamente a manter registros de batismos, casamentos e sepultamentos (Kirchenbücher), fontes de valor inestimável para pesquisas genealógicas.

    Em 1533, durante o Concílio de Trento, a Igreja Católica formalizou a necessidade de manter registros vitais. Entretanto, mesmo antes disso, algumas poucas comunidades do Império já os mantinham. No século seguinte, o formato e o conteúdo destes registros foi definido de forma mais detalhada (vide Rituale Romanum, de 1614).

    Nas comunidades luteranas, a adoção de livros de registros vitais iniciou logo depois da Reforma. Da mesma forma que nas comunidades católicas, a adoção nas comunidades luteranas foi gradativa.

    Em muitas localidades, os registros somente iniciaram no Século 17. Além disso, o conteúdo dos livros variava de acordo com o lugar e com o padre ou pastor responsável pelos registros.

    De forma geral, uma diferença marcante entre os livros das duas confissões é de que os livros católicos eram redigidos em Latim, enquanto que os luteranos o eram em Alemão ou no dialeto local.

    Excetuando a pesquisa de ancestrais que pertenciam à nobreza, o Século 16 é normalmente considerado como o ponto mais distante do tempo que pode ser alcançado pelo genealogista. Antes disso não havia registros vitais. Recuar ainda mais no tempo, normalmente somente é possível através de parcas referências em livros administrativos ou legais, como decisões judiciais, testamentos ou registros de terras.

    Localidade indica a confissão

    Em uma determinada localidade, via de regra a população toda pertencia a uma única confissão, católica ou luterana. Em algumas localidades menores, esta divisão se manteve até o início do Século 20.

    Essa informação pode ser útil para o pesquisador que está tentando descobrir onde ficava a localidade de origem de seu ancestral, quando dela tem apenas o nome. Caso o pesquisador conheça a confissão religiosa de seu ancestral, localidades onde a confissão era diferente podem ser excluídas da busca. Por exemplo, se o pesquisador tiver um nome de localidade que aparece tanto em Mecklenburg, quanto na Baviera, e ele souber que o ancestral é católico, a probalidade de a localidade ser da Baviera é bem alta, visto que Mecklenburg era um região predominantemente luterana e a Baviera predominantemente católica.

    Raciocínio análogo se aplica quando o pesquisador souber a localidade de origem, mas não souber a confissão religiosa de seu ancestral.

    Fontes

    Veja a Bibliografia Geral.

    Fontes específicas desta postagem

    Reforma Protestante (Reformation)
    Paz de Augsburgo (Augsburger Religionsfrieden)
    Kirchenbuch