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As Dinastias Otoniana e Saliana (919-1125)

    Como visto na postagem sobre o Reino dos Francos, em 843, este foi dividido. A parte Oriental coube a Luís, o Germânico (Ludwig II. der Deutsche) e passou a ser chamada de Frância Oriental (Ostfrankenreich). Em grande parte, esta situava-se na região onde hoje fica a Alemanha. Da parte Ocidental, surgiu a França. Desta postagem em diante, vamos nos concentrar apenas na parte Oriental, pois nosso foco é a história da Alemanha.

    Como visto na referida postagem, Luís, o Germânico, pertencia a uma dinastia conhecida como Carolíngios (Karolinger), com referência a Carlos Magno (Karl de Große), seu representante mais conhecido. Os Carolíngios mantiveram o poder sobre a Frância Oriental até 911, quando a dinastia se extinguiu, pois seu último rei não deixou herdeiros.

    A partir de 919, assumiu uma outra dinastia, desta vez de Saxões, que ficou conhecida com Dinastia Otoniana (Ottonen), com referência a seu membro mais conhecido, o Imperador Otão I (Otto I.). Em 962, da mesma forma que Carlos Magno, Otão I foi coroado imperador pelo Papa. A Dinastia Otoniana também é chamada de Casa de Liudolfinga (Liudolfinger), com referência a seu progenitor Liudolfo (Liudolf).

    Os Otonianos reinaram até 1024, quando o poder retornou aos Francos. Desta vez quem assumiu foi outra família de nobres Francos Orientais. Esta família é conhecida como Dinastia Saliana (Salier). Ela ficou no poder até 1125.

    Nesta postagem são mostrados dois mapas, um do período ao redor do ano 1000, portanto referente aos reis Saxões (Otonianos) e outro sem data identificada, provavelmente cobrindo o período dos reis Francos da Dinastia Saliana (1024-1125).

    Sumário

    Mapa do ano 1000

    O mapa abaixo mostra o Reino dos Otonianos ao redor de 1000. Os nomes das divisões do Reino ainda estão em Latim, que era a língua de uso corrente na corte.

    Tradução da legenda do mapa:

    – – – – – Fronteira do Império Romano-Germânico

    Os Ducados Tribais

    Como viria a ocorrer muitas vezes durante a História da Alemanha, no ano 1000, o poder era fracionado entre os duques que dominavam as várias partes do Reino.

    Particularmente, na época dos Otonianos, o poder se concentrava em cinco ducados, às vezes referidos como Ducados Tribais, ou Ducados Raiz (Stammesherzogtümer), pois seus nomes remetem a tribos germânicas importantes que existiam já desde a época dos Francos. O Rei era eleito por estes duques. Ele era escolhido, na maioria das vezes, dentre os sucessores da dinastia reinante.

    Este modelo de sucessão resultava em reis relativamente fracos e uma nobreza poderosa, pois os reis dependiam dos duques para serem nomeados e para conseguir nomear seus sucessores.

    No mapa, os cinco ducados tribais da época dos Otonianos estão marcados com ícones maiores e cor mais escura:

    Os quatro primeiros já constavam do mapa do ano de 843. Já a Lotharingia (Lorena) surgiu a partir da Media Francia (Mittelreich), a parte do Reino dos Francos que havia ficado com Lotário I (Lothar I.). Durante muitos anos, a Lorena foi uma região disputada entre Alemanha e França, trocando várias vezes de lado.

    Outros ducados germânicos

    Além dos ducados tribais, no mapa, aparecem outros ducados germânicos:

    • Thuringia, Thüringen (Turíngia)
      Na época da dinastia Otoniana, a Turíngia, que, em épocas passadas, havia sido um Reino e depois um Ducado, tinha perdido importância e não fazia parte dos Ducados Tribais.
    • Markgrafschaft  Ostarrichi (Marca da Áustria)
      A Marca da Áustria, também chamada de Marca Oriental, estava situada onde hoje fica a Áustria. Como mencionado em outras postagens, o termo “Marca” (Mark) era usado para designar um território de fronteira, que era administrado por um Marquês (Markgraf).
      Na época do mapa (ano 1000), esta Marca pertencia ao Ducado da Baviera. A partir de 1156, tornou-se um Ducado independente.
    • Herzogtum Carantania (Ducado da_Caríntia) (desde 976)
      Este ducado ocupava o que é hoje a Província de Kärnten (Sul da Áustria) e o Norte da Eslovênia.
    • Frísia (Frisien)
      A região em que viviam os Frísios já aparece nos mapas referentes a épocas anteriores.

    Terras não germânicas

    No mapa, em cor verde, estão identificadas várias Marcas, todas em terras de povos eslavos. Esta região aparece com a denominação geral de Sclavania, um termo usado para identificar uma área habitada por Eslavos. No período antes do ano 1000, havia iniciado a cristianização dos povos eslavos que lá viviam e foram estabelecidas várias marcas:

    • Billungische Mark
      Esta marca, situada no Nordeste da Alemanha, na região de Mecklenburg-Schwerin, tinha seu nome por que teria sido administrada pela dinastia de Billung, de nobres da Saxônia.
      Aparentemente, existem poucas fontes contemporâneas sobre esta marca e os historiadores têm dúvidas sobre sua existência e sobre a área por ela efetivamente ocupada.
      Em 985, houve um levante de povos eslavos (Slawenaufstand) e esta região foi desligada do Reino da Alemanha por mais de 200 anos.
    • Nordmark (Marca do_Norte)
      Esta marca situava-se ao Sul da Billungische Mark, aproximadamente onde hoje se encontra do Estado de Brandemburgo. Assim como aquela Marca, esta também saiu do controle do Reino Otoniano quando do levante do eslavos de 985.
    • Mark Lusiza (Mark Lausitz)
    • Mark Misni (Markgrafschaft Meißen)
    • Mark Merseburg (March of Merseburg)
    • Mark Zeitz (March of Zeitz)

    Além da região da Sclavania, outros ducados não germânicos aparecem no mapa:

    • Herzogtum Bohemia (Ducado da Boêmia)
      O Ducado da Boêmia, também conhecido por Ducado Tcheco, foi subjugado em 950, após um período de independência e conflito com os monarcas Alemães, e passou a pagar tributos aos reis da Dinastia Otoniana. Este Ducado ficava onde hoje situa-se a República Tcheca.
    • Herzogtum Polonia (Ducado da Polônia)
      Ao redor do ano 1000, a Polônia começava a surgir como uma nação. Era um estado vassalo do Rei Otoniano e a ele pagava tributos.
    • Pomorania (Pomerânia)
      Ao redor do ano 1000, a Pomerânia ainda não era uma unidade política. Nela viviam tribos eslavas que ainda não haviam sido cristianizadas.
    • Aistische Völker (Éstios, Estonianos)
      Ao Leste da Pomerânia, aparece uma área habitada por Éstios ou Estonianos, um povo báltico que falava línguas fino-úgricas.
      Dentro desta área, aparecem os Prussianos (PrußenPruzzen). Do nome deste povo, deriva-se o nome da Prússia, cuja sede original era nesta região.
    • Hungaria (Reino da Hungria)
      Este reino existiu a partir do ano 1000, tendo sido cristianizado por esta época.

    Mapa da Dinastia Saliana

    Pelas anotações nele contidas, o mapa abaixo deve ser de um período posterior ao do mapa do ano 1000, cobrindo também o período dos Imperadores Salianos. Diferentemente do mapa precedente, aqui as divisões do Império já estão em Alemão.

    Tradução da legenda do mapa:

    – – – – – Fronteira do Império

    As principais mudanças neste mapa em relação ao do ano 1000 estão na parte Nordeste, onde viviam tribos de povos eslavos.

    Duas marcas, Billungische Mark e Marca do_Norte, foram retomadas pelas tribos de eslavos que lá viviam e não mais faziam parte do Reino.

    Além disso, quatro pequenas marcas aparecem unificadas sob a denominação de Ostmark (Marca Oriental Saxã) ou Sächsiche Ostmark.

    Finalmente, a Sudeste do Ducado Lorena (Herzogtum Lothringen), aparece, pela primeira vez demarcada em um mapa, a Alsácia (Elsaß)

    Quando começou a “Alemanha”

    No título dos dois mapas desta postagem, e de muitos outros mapas no site, aparece a palavra “Deutschland” (Alemanha).

    Entretanto, se consultarmos os historiadores atuais (vide Bibliografia), veremos que muitos são céticos quanto à existência de um “Reino da Alemanha” tão cedo na história. Muito mais, os habitantes dessas regiões tendiam a ver sua nacionalidade como sendo a da tribo ou do ducado ao qual pertenciam (Saxões, Francos, …), sendo o reino ou império um aglomerado de muitos povos.

    Relativo ao uso do nome Deutschland nos mapas, há que ponderar que esses foram publicados na Alemanha, entre o final do Século 19 e o início do Século 20. Naquela época, o nacionalismo era preponderante. Provavelmente, os autores dos mapas procuravam reforçar a identidade alemã desde muito cedo na História.

    Desde ao redor dos anos 1000-1100, até seu final em 1806, o Império dos alemães tinha a denominação de Sacro Império Romano (Heiliges Römisches Reich). Ao usar esta denominação, os monarcas procuravam atingir um duplo objetivo. 

    • Por um lado, com a palavra “Romano” procuravam demonstrar o caráter universal do Império que reunia vários povos, não só alemães, e também demonstrar a continuidade do Império Romano da antiguidade.
    • Por outro lado, através da palavra “Sacro” procuravam mostrar a legitimação divina de seu poder, enfatizada através coroamento de alguns dos imperadores pelo próprio Papa. 

    A partir do final do Século 15, algumas vezes, o sufixo Deutsche Nation (Germânico) era adicionado ao nome, que passava a ser “Sacro Império Romano-Germânico” (Heiliges Römisches Reich deutscher Nation).

    Por conveniência, ao longo do site, as vezes usamos o termo “Alemanha” para designar de forma simplificada o Sacro Império Romano ou um de seus estados sucessores, de acordo com a época.

    Fontes

    Fontes gerais

    Veja a Bibliografia Geral.

    Fontes específicas desta postagem